Ombro e cotovelo no esporte
Lesões no tênis
A prática regular do tênis garante boa dose de atividade aeróbica, que pode promover bom condicionamento cardiovascular e respiratório, contribuindo para o controle da pressão arterial e da taxa de glicose no sangue, desde que, evidentemente, acompanhada de bons hábitos alimentares. Tais vantagens são suficientemente atrativas para propagar o esporte entre novos praticantes, além, é claro, da diversão que oferece aos atletas recreacionais. Entretanto, com o aumento no número de praticantes e na carga de treinamento, pode haver maior incidência de lesões osteoarticulares, posto que o tênis demanda grande esforço dos músculos e articulações de todo o corpo, especialmente dos membros superiores. Parece claro que a incidência e os tipos de lesões relacionam-se ao nível e à intensidade de treinamento. Em linhas gerais, enquanto atletas de elite costumam apresentar lesões degenerativas, instaladas durante longos períodos de sobrecarga das articulações, os atletas recreacionais e/ou eventuais costumam ter tendinites decorrentes de técnica inadequada ou esforço excessivo.
Durante uma partida de tênis, o saque é um dos momentos de maior esforço. O impacto entre a raquete e a bola é apenas uma parte do complexo mecanismo do saque. Durante o serviço, há movimentos coordenados dos joelhos, quadris, tronco e, só então, toda a energia gerada por esses movimentos é transmitida ao membro superior e, em seguida, à raquete (FIGURA 1). Às articulações dos membros superiores cabe não apenas gerar mais energia, como também modular toda a energia gerada e transformá-la em um bom serviço. Desta forma, as articulações, tendões e músculos dos membros superiores tornam-se suscetíveis às lesões degenerativas e inflamatórias. Além do saque, as trocas de bola durante os pontos (em forehand e backhand) também envolvem forças consideráveis sobre tais estruturas, podendo ser responsáveis por parte das lesões por sobrecarga.
OMBRO
As doenças mais frequentes no ombro de jogadores de tênis são as tendinites do manguito rotador. O manguito rotador é um conjunto de quatro tendões responsável pela movimentação do ombro. O mais importante deles, o tendão supraespinal, passa sob uma proeminência óssea, o acrômio, que pode, em algumas situações, realizar compressão sobre o tendão (FIGURA 2). Isto, por sua vez, leve à inflamação, ao desgaste e, eventualmente, à rotura do tendão. Essa cascata de eventos e seus sintomas é chamada de síndrome do impacto. Nos casos iniciais, o atleta consegue trocar bolas durante os pontos, mas tem dor para executar golpes com a raquete acima da cabeça (saque e smash). A existência de desequilíbrio muscular dos membros superiores, especialmente dos músculos que envolvem a escápula, pode contribuir para o desenvolvimento da síndrome do impacto. Além disso, jogadores de elite podem desenvolver encurtamento de ligamentos no ombro, caso não realizem exercícios específicos de alongamento.
COTOVELO
Tradicionalmente, a doença ortopédica mais relacionada ao tênis é a epicondilite lateral, também chamada de tennis elbow ou cotovelo do tenista. Trata-se de uma inflamação, seguida de desgaste, dos tendões que se originam na região externa (lateral) do cotovelo e são responsáveis pela extensão do punho e por grande parte da força de preensão (usada para segurar a raquete, por exemplo) (FIGURA 3). É muito associada ao golpe em backhand. Embora muito associada ao tênis, atualmente, com o desenvolvimento de novos materiais para raquetes e cordas, tem sido cada vez menos comum em jogadores de tênis, exceto quando há erro de técnica do backhand (realizar extensão do punho seguidamente ao fim dos golpes) ou problemas relacionados à raquete. Além disso, outras lesões menos usuais são epicondilite medial (semelhante à lateral, porém na face interna do cotovelo), neurite ulnar (inflamação do nervo ulnar), impacto posterior/tendinite tricipital (causa dor para esticar o cotovelo).
COMO PREVENIR?
Melhor que tratar as lesões é prevení-las. Desta forma, algumas dicas podem ser sugeridas para evitar que as lesões ocorram:
- RAQUETE: deve ter o peso adequado para o nível de treinamento e força muscular de cada jogador; ajustar a tensão das cordas a fim de evitar transmissão excessiva de impacto para as articulações e tendões; selecionar o tamanho adequado da área de preensão (pegada – grip).
- TÉCNICA: executar golpes respeitando a técnica adequada geralmente é capaz de minimizar o risco de lesões, pois evita movimentos inadequados com punho, cotovelo e ombro. Isto não diz respeito apenas ao momento do impacto entre a raquete e a bola, mas a toda a preparação para o golpe, bem como sua terminação.
- EQUILÍBRIO MUSCULAR: é importante manter um bom equilíbrio muscular dos membros superiores, especialmente da região do ombro e escápula. Neste contexto, exercícios de musculação supervisionados para reforço do manguito rotador e outros músculos da região podem ser benéficos para diminuir a chance de lesões.
- ALONGAMENTO: exercícios de alongamento, praticados regularmente, também são benéficos ao jogador de tênis. Embora a tendência em sofrer encurtamento de ligamentos na região posterior do ombro seja maior em atletas de alta performance, os atletas recreacionais também se beneficiam da realização de exercícios de alongamento, especialmente da cápsula posterior do ombro.